Obrigado, Eugénia

Quando vieres 
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala...

Apenas
os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.

Quando vieres
não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações,

Pois quando tu vieres
Não és tu que vens
É todo um mundo novo que despontará fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal
in "Silêncio de Vidro", Lisboa, 1962
(Álvaro Cunhal, 14 anos mais velho que a irmã, estivera na prisão durante 11 anos e fugira 2 anos antes. E tinha saído do país. Veio em 1974.)

Faleceu Maria Eugénia Cunhal
http://www.pcp.pt/faleceu-maria-eugenia-cunhal