Em louvor do mar da Aguda - Texto de JS

De que é feita a identidade de um País?
Da sua história, da língua, da memória colectiva, da cultura, de um tecido onde se cruzam linguagens e cumplicidades, de mãos que amassam o pão da vida, e da capacidade de governo, da vontade, posta à prova e vitoriosa, de enfrentar uma ameaça, defender uma comunidade e organizar um território.
Em torno de uma identidade se ergue uma Pátria soberana, se afirma a independência e encontram as alianças necessárias para sua defesa.
O que se tem passado nos últimos 20 anos, desde a adesão à então Comunidade Económica, hoje União Europeia, é, por deliberada abdicação, a gradual entrega dos direitos de soberania e a adaptação, ou subordinação, dos interesses nacionais aos das grandes potências e aos grupos financeiros nelas preponderantes.
Não há uma verdadeira estratégia de desenvolvimento nacional, o que tem havido é a transcrição do receituário inscrito nos preâmbulos dos Quadros Comunitários de Apoio (e agora do QREN), é a imposição de directivas, é o queimar etapas a troco de pouco ou nada, é a destruição do sector produtivo da economia, como na agricultura, nas pescas e em grande parte da indústria.
Fruto desta orientação, o nosso País está hoje mais dependente e a capacidade de crescimento está reduzida ao mínimo. Há mesmo governantes que se referem a Portugal, com gáudio de novidade, como se fora apenas uma MARCA na feira global, e nada mais.
Dir-se-á que hoje as fronteiras de soberania já não são apenas físicas. Pois não, mas é dentro dos seus limites que se afirma a vontade política de um povo .
Não há nenhuma directiva europeia que decrete a extinção da pesca artesanal, mas a verdade é que vai acabando, pela administração de subsídios interesseiros ou por incúria.
Assim acontece na Aguda, onde os atrasos do Governo são responsáveis pelo assoreamento da baía. Eram 70 barcos, hoje são 10, se nada for feito ficarão ainda menos. É uma riqueza, embora modesta, que se perde, mas sobretudo é um património, que faz parte da identidade de Gaia, que desaparece.
Jorge Sarabando
Deputado Municipal da CDU