As palavras e os actos - Texto de JS

Há dias, uma munícipe de Gaia recebeu uma carta da Segurança Social a informá-la que, por fazer 70 anos, poderia candidatar-se ao programa do governo "Complemento Solidário para Idosos", que atribui às pessoas com aquela idade uma pensão mínima de 300 euros. Para ela significaria um pequeno aumento, 18 euros, mas valia a pena, claro. Ao dirigir-se ao serviço competente teve, no entanto, a ingrata surpresa de lhe ser recusado o dito aumento com a alegação de que era casada e, como tal, contava o rendimento do agregado familiar. Como a reforma de cônjuge, embora também pequena, ultrapassava o limite legal para o agregado familiar, nada feito.

Milhares de idosos estão nesta ou em equivalente situação impeditiva e receberam idêntica carta, mas a alegria que tiveram durou apenas o tempo de se dirigirem aos serviços.

Há cerca de três anos, em plena campanha eleitoral, o País foi coberto com numerosos cartazes em que se fazia a piedosa promessa de aumento da pensão mínima para os idosos, tudo recoberto de largas juras de solidariedade social. Muitos acreditaram e certamente votaram no Partido que tal lhes prometia. Se se tratasse de uma actividade comercial e não de uma questão de cidadania a isto se chamaria publicidade enganosa.

Ainda agora, numa entrevista encomendada ao"El País", o Primeiro-ministro Sócrates, para comprovar as suas virtuosas preocupações com a pobreza, afirma, peremptório,"demos um complemento solidário a 50000 pensionistas até perfazer um mínimo de 300 euros" . É fácil de ver que não é verdade, mas serve a propaganda.

A realidade é bem outra. Os montantes dos salários e pensões são reduzidos, o desemprego e a pobreza não cessam de aumentar, mas isto não impediu que uma entidade dependente do governo, a ERSE, viesse defender que os novos contadores de electricidade, que é do interesse da EDP instalar, sejam pagos pelos utentes e não pela própria empresa, como acontece em Espanha, por exemplo Isto significará, a concretizar-se, um aumento de 1,7 a 3,1% nos próximos 20 anos.

A EDP está em dificuldades? Não. Segundo dados recentes, acumulou nos últimos 5 anos 3168 milhões de euros de lucros, e nos primeiros 9 meses de 2007 já vai em 665 milhões. O critério que guia os decisores não é, pois, o de defender as condições de vida da população, é o de não enfrentar os grandes interesses financeiros.

Há também orientações para que uma futura taxa de controlo da qualidade da água venha a ser também paga pelos consumidores. Parece absurdo, mas com este Governo tudo parece ser possível. Em palavras é muito solidário, nos actos é o que se vê.

Jorge Sarabando

Deputado Municipal da CDU