Quem semeia ventos - Texto de JS

A Europa viveu durante as quatro décadas seguintes ao fim da II Guerra Mundial um período de relativa paz É certo que houve ainda a Guerra Civil na Grécia, até l948, e a luta pela independência de Chipre, então colónia britânica, e outros conflitos localizados e de curta duração.
Mas o que marcou aquela época foi a Guerra Fria, e os seus desenvolvimentos no terreno, bem como a militarização do espaço europeu. A corrida aos armamentos a que deu lugar engordou a indústria militar, sobretudo a norte-americana.
Foi preciso chegar o fim da União Soviética, para encontrarmos um conflito bélico de grandes proporções na Europa, sem contarmos com os que ocorreram no Cáucaso.
O desmantelamento da antiga Federação Jugoslava, iniciada com a secessão da Eslovénia e da Croácia, patrocinada e largamente financiada pela Alemanha, deu origem a uma guerra em larga escala, que opôs artificialmente povos que, durante mais de meio século, com excepção dos anos de ocupação nazi, souberam cooperar, viver em paz e construir uma nação desenvolvida, respeitada, impulsionadora e dirigente do Movimento dos Países Não Alinhados.
Sucederam-se conflitos de enorme violência, pontuados de actos de verdadeiro genocídio, em que não uma mas as várias partes tiveram comprovadas responsabilidades.
Mas os media ocidentais, absolutamente controlados, procuraram apresentar sempre os sérvios como principais ou mesmo únicos culpados.
Sobre as dezenas de milhares de famílias sérvias trucidadas e expulsas das suas terras e casas na Krajina, pelo Exército Croata, não há imagens. Dos bombardeamentos de Belgrado e outras cidades sérvias pelos aviões da NATO, durante vários meses, atingindo frequentemente alvos civis e fazendo centenas de vítimas inocentes, designados por”danos colaterais”, raras imagens ficaram. Sobre o êxodo do povo sérvio através das montanhas dos Balcãs, ergueu-se um muro de silêncio e desinformação.
As iniciativas do directório das grandes potências dominantes na NATO nunca foram para reconciliar, sarar as feridas, recuperar a confiança, foram, sobretudo, para dobrar os joelhos e humilhar a nação sérvia, impor-lhe condições que, além de contrárias aos seus legítimos interesses, ferem o orgulho nacional.
O reconhecimento do Kosovo serve os interesses estratégicos e económicos dos Estados Unidos e das potências suas mais fiéis aliadas, que procuram arrastar os restantes países da União Europeia para uma flagrante violação do direito internacional, e o confronto com a Rússia, que tem também interesses estratégicos a defender.
A paz está de novo ameaçada, e o interesse de Portugal, que por errada decisão tem tropas no terreno, é o de marcar distância em relação a um processo que se sabe como começou mas não se sabe como vai acabar.

Jorge Sarabando
Deputado municipal da CDU