Um sonho de Carnaval - por PT

No meu sonho os "acontecimentos" passam-se na Avenida da República, nesse dia preenchida com muita gente e todo o tipo de cores, à espera do grande corso carnavalesco que vinha sendo anunciado com alguma antecedência.

Era um dia de Sol, convidativo a grande mobilização do povo gaiense, e não só, dada a notoriedade das figuras participantes. Ouvia-se música em toda a Avenida (brasileira, claro).

Começa o desfile e, para espanto da população, logo à frente veem vários elefantes, cabeças ornadas de pérolas preciosas e diamantes, em cima do lombo transportando cestos com os grandes banqueiros nacionais e administradores de grandes empresas, deliciando-se a beber champanhe, a comer frutos e a jogar "uma Opa para mim, uma Opa para ti", um jogo muito em voga nos últimos tempos. Nas partes laterais os elefantes levavam alforges cheios de dinheiro, representando os lucros milionários daquela gente nos últimos anos, nomeadamente fruto dos arredondamentos feitos à décima, e afins.

No fim da fila vinha um elefante branco, transportando o Governo que projectava um PowerPoint onde anunciava as suas intenções para o futuro, tais como: reduzir as urgências hospitalares, despedir funcionários públicos, vender a ANA a privados, impor a flexi-segurança, o novo aeroporto da Ota e ainda o lançamento do TGV, enquanto convidavam os empresários chineses e outros a investirem no nosso país apregoando que os salários são baixos.

A seguir aos elefantes vinham os carros alegóricos, com os vários representantes da oposição. Um deles saltitando constantemente para ver se davam por ele, mas sem grande sucesso – "ganda nóia". Quando o cortejo chegou à Câmara, o tal líder, já sem óculos de tanto saltar, exclamava:- "Ena Pá! Como a Câmara de Lisboa está diferente".

Outro líder vinha dentro de um grande caixote, e a seu lado estava Paulo Portas com um carimbo na mão, onde se lia: "exportação para o Parlamento Europeu".

No segundo carro, vinha o executivo camarário, com o Presidente a distribuir Taxas aos Munícipes, havendo-as para todos os gostos: de rampas, de direito de passagem, de saneamento, de lixos, de protecção civil, etc. Ao seu lado, um vereador com um parquímetro ao ombro falava com uma jornalista – "com estes brinquedos vão haver menos carros nas ruas». O Vice-Presidente com uma coroa de flores na cabeça e túnica branca, qual dignitário romano, impedia exaltadamente os deputados municipais do seu partido de subirem para o carro, dizendo: "se querem protagonismo vão para a Assembleia Municipal e levantem o braço". Um outro vereador, o das obras públicas e da educação, tinha uma pala no olho mais virado para a educação enquanto, com o braço direito, levantava bem alto a Carta Educativa para o concelho, que tinha encontrado numa prateleira do seu gabinete.

Num terceiro carro vinha Alberto João Jardim, com o seu ar bonacheirão; numa das faces lia-se "demito-me", na outra "reelejam-me".

O povo assistia de sobrolho franzido.

Por fim, no último carro, vinham vários comentadores políticos, onde sobressaíam os gémeos siameses Marcelo e Vitorino, transportando a sigla RTP, com um cartaz dizendo "Resignem-se às Taxas, Portugueses.

O corso acabou na Rotunda de Sto Ovídio, preso nas obras adiadas do Metro, onde as buzinadelas eram infernais, e me fizeram acordar do sonho.

Paulo Tavares